h) Da Bíblia à vida

Este é, normalmente, o método seguido nos Grupos de Dinamização Bíblica, orientados pelos Franciscanos Capuchinhos. Neste método, a Bíblia é o ponto de partida e a vida o ponto de chegada. O esquema tem, portanto, apenas duas partes: Bíblia – vida. Parte-se da convicção de que a Bíblia é o centro do grupo e da vida do grupo. Mas, ao contrário do método anterior, na celebração do grupo, a vida é apenas o ponto de chegada e não o ponto de partida.

Um outro ponto de partida deste método, e que explica o esquema bipartido, é o facto de assumir as quatro notas fundamentais da Igreja, especializando-se na Palavra: Koinonia (Amizade), Palavra, Liturgia e Missão. Assim, os Grupos de Dinamização Bíblica definem-se como: Grupos da AMIZADE, PALAVRA, ORAÇÃO e ACÇÃO. Por isso, em questão de tempo dispendido na reunião-celebração, o grupo dá tanta ou mais importância à Palavra como às outras três notas juntas. Outras classes de grupos eclesiais especializam-se numa das outras três notas fundamentais da Igreja.

Como estamos a ver, este método é próprio de sociedades mais calmas, do ponto de vista social, e não tem muito a ver com a Teologia da Libertação. No entanto, temos de referir que a ligação Bíblia-Vida não aparece apenas no compromisso final, mas em toda a sua dinâmica e ao longo de toda a celebração, em que é permanente o confronto entre as duas, sobretudo a nível individual. O confronto Bíblia-Vida, colectivamente, realiza-se sobretudo no compromisso final, assumido por todo o grupo. No que toca à metodologia específica deste método, remetemos os leitores para o Caderno do Animador, que contém esquemas de reuniões e muitos outros subsídios para os Grupos de Dinamização Bíblica [1].

Outros métodos intermédios:

1) Da Bíblia à vida: grupo: 5-6 pessoas

Método: clima de silêncio, durante 1 hora; a reunião faz-se à volta duma Bíblia e duma luz, para significar que a Bíblia é a Palavra-luz do mundo para todo o crente (Jo 1,1.9; 8,12; 12,46) e Ele encontra-Se no meio dos que se reúnem em Seu nome (Mt 18,20). Segundo este método, o Animador não é um estudioso da Bíblia nem “o faz tudo” do grupo.

Apenas orienta o grupo, tentando fazer que o método seja seguido com certo rigor. Pode ser ele a fazer a prece introdutória ou canto inicial e designa os leitores para a reunião. Pode escolher-se uma ou duas leituras da liturgia dominical ou outras dum tema previamente preparado.

Três modelos de método:

a) Responder à Palavra na oração:

* Cântico / oração de entrada

* Palavra:

1ª etapa: texto-letra morta:

– Leitura por um membro do grupo, enquanto os outros também lêem em silêncio.

– Releitura, em silêncio por todos (uns 3 minutos), onde anotarão algum termo ou ideia que mais lhes tocou.

– Partilha, por todo o grupo, do que foi encontrado no texto, sem referir as razões.

2ª etapa: Da letra morta à Palavra viva para mim e para os outros:

– Leitura em alta voz do mesmo texto, por outro leitor, enquanto os outros escutam ou acompanham pela sua Bíblia.

– Silêncio e interrogação da Palavra: Que queres de mim, Senhor, com esta Palavra?

– Partilha: em forma pessoal, em clima de fé e em 1ª pessoa: eu… (não é homilia nem uma lição de Bíblia).

3ª Etapa: A Palavra exige a minha / nossa resposta:- Leitura do texto, pela 3ª vez, por uma outra pessoa, enquanto todos escutam.

– Silêncio e resposta pessoal à Palavra (5 minutos), na mesma linha da”proposta”.

– Partilha: Cada um exprime a sua própria resposta em forma de oração, de modo que todos possam responder e participar com um “Amen”.

4ª Etapa: Conclusão: Pai-nosso, cântico ou oração final.

b) Responder à Palavra com a acção:

* Oração ou cântico inicial

1ª Etapa: Como no modelo anterior

2ª Etapa: Como no modelo anterior

3ª Etapa: A Palavra exige uma resposta:

* Leitura da passagem escolhida (como no modelo anterior);

* Silêncio e resposta pessoal à Palavra (5 minutos): cada um pede ao Senhor como pôr em prática aquela Palavra;

* Partilha da resposta pessoal à Palavra: cada um diz como pensa responder à proposta do Senhor da Palavra. Se se trata duma família, comunidade religiosa, grupo de trabalho… pode encontrar-se uma resposta comum à Palavra.

c) Combinação de 1 e 2:

Juntam-se os dois modelos anteriores, mas não se lê uma 4ª vez o texto. O compromisso pode integrar-se na oração.

Sentido do Método:

– 3 etapas: TEXTO – PALAVRA – RESPOSTA: o texto é a escrita da Palavra de Deus para mim. Mas a Palavra é uma palavra pessoal de Deus para mim. Quando Ele me fala exige a minha resposta.

– As três leituras do texto:

A palavra bíblica é essencialmente uma Palavra para proclamar (Qara’). A fé vem da escuta (shema’) da Palavra. Não se deve pescindir das três leituras do texto, sob o pretexto de economizar tempo. Isto porque pode haver no grupo quem não sabe ler; e porque se compreende, se grava na memória e se aprecia melhor a Palavra.

– Os três momentos de silêncio:

Os silêncios permitem a passagem eficaz da leitura-escuta à partilha da Palavra. São encontro pessoal com o Deus da Palavra. Este tempo de meditação da Palavra pode prolongar-se, se o grupo assim quiser. No silêncio, a Palavra julga-me e santifica-me (ver Is 55, 6-11).

– Três tempos de partilha:

É na partilha que se encontra a finalidade da leitura em grupo e do silêncio. Ela faz que a leitura seja verdadeiramente comunitária: na 1ª parte, há uma abordagem “curiosa” do texto. Apesar de conhecermos muitos textos da Bíblia, isso não significa que conheçamos o seu sentido profundo; é nesta partilha que se atinge a profundidade do texto; na 2ª etapa, a partilha pretende tornar complementar o que cada um encontrou no texto; na terceira etapa, temos uma partilha orante da Palavra, lugar alto da vivência da Palavra em grupo, como acontecia nas comunidades apostólicas (1 Cor 14,16; 2 Cor 1,20).

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[1]. Vv. Caderno do Animador, Difusora Bíblica, Lisboa, 1992, 190 pág

comentário(s)

  1. Joao Evangelista disse:

    Gostei muito de Artigo.

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