Maria: educadora do Filho de Deus

quinta-feira, julho 26, 2007

1. Embora tenha ocorrido por obra do Espírito Santo e de uma Mãe Virgem, a geração de Jesus, como a de todos os homens, conheceu as fases da concepção, da gestação e do parto. Além disso, a maternidade de Maria não se limitou apenas ao processo biológico do gerar, mas, como ocorre para qualquer outra mãe, deu também uma contribuição essencial para o crescimento e o desenvolvimento do filho. Mãe é não só a mulher que dá à luz um filho, mas aquela que o cria e o educa; antes, podemos dizer que a tarefa educativa é, segundo o plano divino, o prolongamento natural da procriação. Maria é Theotokos (no grego) não só porque gerou e deu à luz o Filho de Deus, mas também porque O acompanhou no seu crescimento humano.

2. Poder-se-ia pensar que Jesus, possuindo em Si a plenitude da divindade, não tenha tido necessidade de educadores. Mas o mistério da Encarnação revela-nos que o Filho de Deus veio ao mundo numa condição humana em tudo semelhante à nossa, exceto no pecado (cf. Heb. 4, 15). Como acontece para cada ser humano, o crescimento de Jesus, da infância até à idade adulta (cf. Lc. 2, 40), precisou da ação educativa dos pais. O Evangelho de Lucas, particularmente atento ao período da infância, narra que Jesus em Nazaré era submisso a José e a Maria (cf. Lc. 2, 51). Essa dependência mostra-nos Jesus na disposição a receber, aberto à obra educativa de sua mãe e de José, que exerciam a sua tarefa também em virtude da docilidade por Ele constantemente manifestada.

3. Os dons especiais, de que Deus tinha colmado Maria, tornavam-na particularmente idônea a desempenhar a tarefa de mãe e educadora. Nas circunstâncias concretas de todos os dias, Jesus podia encontrar nela um modelo a seguir e a imitar, e um exemplo de amor perfeito para com Deus e os irmãos. Ao lado da presença materna de Maria, Jesus podia contar com a figura paterna de José, homem justo (cf. Mt 1, 19) que assegurava o necessário equilíbrio da ação educativa. Exercendo a função de pai, José cooperou com a sua esposa para tornar a casa de Nazaré um ambiente favorável ao crescimento e à maturação pessoal do Salvador da humanidade. Iniciando-O depois no duro trabalho de carpinteiro, José permitiu a Jesus inserir-se no mundo do trabalho e na vida social.

4. Os poucos elementos que o Evangelho oferece, não nos consentem conhecer e avaliar completamente as modalidades da ação pedagógica de Maria para com o seu Filho divino. Sem dúvida, foi ela, juntamente com José, que introduziu Jesus nos ritos e prescrições de Moisés, na oração ao Deus da aliança mediante o uso dos Salmos, na história do povo de Israel centrada no êxodo do Egito. Dela e de José, Jesus aprendeu a freqüentar a sinagoga e a realizar a peregrinação anual a Jerusalém, por ocasião da Páscoa. Olhando para os resultados, podemos sem dúvida deduzir que a obra educativa de Maria foi muito incisiva e profunda, e encontrou na psicologia humana de Jesus um terreno muito fértil.

5. A tarefa educativa de Maria, dirigida para um filho tão singular, apresenta algumas características particulares em relação ao papel das outras Mães. Ela garantiu apenas as condições favoráveis para que se pudessem realizar os dinamismos e os valores essenciais de um crescimento, já presentes no Filho. Por exemplo, a ausência em Jesus de qualquer forma de pecado exigia de Maria uma orientação sempre positiva, com a exclusão de intervenções corretivas para com Ele. Além disso, se foi a Mãe que introduziu Jesus na cultura e nas tradições do povo de Israel, será Ele, desde o episódio do encontro no Templo, a revelar a plena consciência de ser o Filho de Deus, enviado para irradiar a verdade no mundo, seguindo exclusivamente a vontade do Pai.

De “mestra” do seu filho, Maria torna-se assim a humilde discípula do divino Mestre por ela gerado. Permanece a grandeza da tarefa da Virgem Mãe: desde a infância até à idade adulta, ela ajudou o Filho Jesus a crescer “em sabedoria, em estatura e em graça” (Lc. 2, 52) e a formar-se para a Sua missão. Maria e José emergem por isso como modelos de todos os educadores.

Eles sustêm-nos nas grandes dificuldades que hoje encontra a família e mostram-lhes o caminho para chegar a uma formação incisiva e eficaz dos filhos. A sua experiência educadora constitui um ponto de referência seguro para os pais cristãos, chamados, em condições cada vez mais complexas e difíceis, a pôr-se ao serviço do desenvolvimento integral da pessoa dos seus filhos, para que vivam uma existência digna do homem e correspondente ao projeto de Deus.

(L’Osservatore Romano, Ed. Port. n.49, 07/12/1996, pag. 12(568) Do Livro: “A VIRGEM MARIA – 58 CATEQUESES DO PAPA JOÃO PAULO II” – fonte: www.comunidadeshalom.org.br)

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